Capítulo 01 – Gentil e Cruel (Parte I)

Eu consegui afastar meus pensamentos sobre o fim terrível de Fiona ou o meu futuro.

Agora, meu pai, Earl Green, tinha convocado toda a família, inclusive eu, para a sala de estar. Nessa situação, se ele descobrisse que não estava prestando atenção^[1] novamente, eu poderia ser espancada com um pedaço de pau.

— Todo mundo sabe que a situação na guerra não é boa atualmente.

Como esperado, o Conde Green logo abriu a boca com um olhar sério.

— E ontem, o Palácio Imperial emitiu uma ordem para nossa família, que deve enviar um mago para ir ao norte, onde a situação é ruim.

Meus irmãos, reunidos na sala, ficaram perturbados com as palavras inesperadas. Mas eu balancei a cabeça calmamente. Se meu palpite estiver correto, ainda faltam cerca de seis anos antes do início do conflito principal do romance.

Neste mundo, a guerra não era uma batalha entre nações. Para ser precisa, é uma luta entre demônios e humanos.

Havia monstros, liderados por dragões amaldiçoados, e os humanos que podiam lutar — mercenários, magos, cavaleiros, etc. — participavam da guerra e bloqueavam seu avanço.

Talvez, neste momento, o Império estivesse em desvantagem porque havia sido empurrado para retaguarda na luta contra os monstros por muito tempo.

… Se você perguntar por que não há sonhos ou esperanças neste mundo com tema sobre romance e fantasia, é para destacar os personagens principais.

Em um mundo onde os humanos estão morrendo cada vez mais pelos dragões e monstros amaldiçoados, as pessoas serão  salvas pelos protagonistas masculino e feminino, que aparecem como cometas. Para resumir o enredo do romance, é isso.

— Por causa disso, um de vocês deve se juntar à guerra no fronte do norte.

As palavras “juntar à guerra” que saíram de meu pai aumentaram a agitação dos meus irmãos mais velhos que se reuniam na sala.

—  Pai, é uma guerra. Estamos indo mesmo?

—  Oh, meu Deus…

A Casa Green era uma das famílias imperiais de magos e feiticeiras. Então, quando a situação se agrava, é natural que o palácio imperial peça apoio. A grande questão era: Quem diabos iria para a guerra?

Para ser honesto, todos aqui eram filhos de uma família aristocrática bem-educada e nunca haviam feito nenhuma tarefa, muito menos ido à guerra. Se qualquer um corressem para a guerra, não seria capaz de lutar adequadamente.

E o Conde Green, que conhecia a verdade melhor do que ninguém, deu um sorriso falso.

—  Eu me pergunto se algum de meus filhos se oferecerá bravamente como voluntário para esta missão gloriosa.

— …

Todos ficaram em silêncio, enquanto se olhavam.

Naquela época, Cain Dell cutucou meu lado e sussurrou:

— Você vai, sua parasita^[2]…

Não, esse cara é real? Olhei para ele e passei minhas mãos ao redor do meu lado latejante.

O Conde tem quatro filhos no total. Mas, com exceção de mim, a mais nova, os três mais velhos eram todos filhos da Condessa. Então, no meu íntimo eu sabia que todos esperavam que eu, a filha ilegítima inútil, fosse para a guerra.

Ainda mais, Cain Dell levantou a mão e disse:

— Pai, estranhamente, nossa irmã mais nova vai se candidatar. Acho que ela não consegue falar em voz alta, porque é tímida.

— Vamos, espere um minuto…

Claro, eu nunca disse uma palavra! Olhei para Cain Dell com meus olhos bem abertos. Quando nossos olhos se encontraram, ele deu um sorriso malvado. Esse filho da puta!

O Conde Green confirmou com um rubor no rosto:

— Oh, sim! Você está dizendo que irá, Fiona.

Esses dois se dão muito bem! Então, era isso que eles dois planejavam desde o início? Cain Dell ergueu os cantos dos lábios num sorriso irônico^[3].

— É uma honra representar a família. Você deve estar tão agradecida! Uma pessoa tão humilde receber esta oportunidade de nos retribuir por te criar até agora.

…Não importa o quanto eu ouça isso, soava como se dissesse para eu ir à guerra e morrer, certo? Não, que tipo de família envia uma criança de treze anos para o campo de batalha sem hesitação em primeiro lugar!

A segunda irmã, Jane, começou a ajudar:

— Sim, Fiona. Cain Dell têm que continuar a família, e vou me casar em breve. E o nosso terceiro irmão, Zen, também está noivo de uma linda garota. Em uma situação como essa, como você pode enviá-lo para guerra sem compaixão? É melhor você ir.

Droga! Eles diziam que não deveria ter uma filha ilegítima na família e nunca me ensinaram magia direito. Trancavam-me no sótão todos os dias e me espancavam.

Claro, eu sei usar magia, mas isso é algo que aprendi observando-os sem que percebessem. Felizmente, eu já conhecia o básico de como usar magia.

— Eu…

Quando abri minha boca, todos me encararam com seus rostos rígidos. Eu não era tola para não saber o significado por trás daqueles olhares astutos de cobras:

“Você acha que pode recusar?”

Foi neste momento que terminei de entender a situação. Era algo que já estava decidido desde o início.

Era uma situação em que eu não tinha opções em primeiro lugar. Se eu recusasse, eles me forçariam a entrar no meio do campo de batalha como uma fera sendo arrastada para o matadouro. Porque, desde o começo, não há ninguém do meu lado nesta mansão, e ninguém teria pena de mim.

— Eu…

Fiona, que nem era a personagem principal, tinha apenas uma frase sobre seu passado:

‘Como filha ilegítima, ela cresceu sendo perseguida pela sua família.’

Era exatamente isso que estava sendo exibido na frente dos meus olhos. Uma família que casualmente envia uma criança de 13 anos para o meio do campo de batalha, esperando que morra. Como fase da infância da vilã final, não havia sonhos ou esperanças.

Respirei fundo e falei devagar.

— …Tudo bem. Eu vou.

E se eu rejeitar e me rebelasse pela força? Mesmo se eu agisse assim e me livrasse dessa família astuta na minha frente, meu futuro ainda era sombrio.

Naturalmente, mesmo neste mundo, a punição pelo assassinato de um parente era pesada. Mesmo que eu escapasse da situação atual, ficaria presa pelo resto da minha vida, ou a vida de fugitiva seria saída.

Então, se eu tivesse que ir de qualquer jeito, ao invés de ser arrastada como um animal, eu preferia sair com meus próprios pés como um ser humano. Assim, pelo menos, consigo manter o mínimo do meu orgulho.

Com minhas palavras, a família deu falsos aplausos.

— Sim, essa é uma boa escolha, Fiona!

— Estou orgulhoso de você!

— Finalmente, você está fazendo a sua parte!

Este foi o propósito de me chamarem aqui desde o início. Normalmente, eles não me tratavam como uma pessoa e ficava trancada no sótão, mas, por este motivo,  eu fui convidada para a reunião de família.

— ….

De alguma forma, me senti triste. Nesse um ano, desde quando percebi que possuí o corpo de Fiona, nunca fiquei tão triste. Será que Fiona, a vilã final que criei, se sentiu assim?

Por alguma razão, eu estava arrependida. Fiona, que nunca foi verdadeiramente amada por ninguém em toda a sua vida, se ressentia do mundo. E, eventualmente, ela caiu num pântano irreversível devido a suas escolhas erradas.

Mas, ao contrário dela, eu não iria culpar ninguém facilmente.

Porque este é o mundo que eu escrevi.

O Ducado de Heilon era uma família poderosa que há muito tempo defendia o território do norte. O Lorde, Duque Abel Heilon, é conhecido por sua personalidade dura e impiedosa, pois estava no comando da linha de frente da guerra.

Claro, também foi a descrição que escrevi.

… Então, conduzido por meu pai e meus irmãos mais velhos, cheguei a Heilon, o reino do norte governado pelo implacável duque Abel Heilon.

— Eu cavei minha própria cova…

O primeiro lugar que visitei quando cheguei foi o castelo do Duque de Heilon. A torre imponente e as paredes de pedras sólidas, como uma cadeia de montanhas, davam uma grande sensação de intimidação.  Por fora, era semelhante ao Castelo de um Rei Demônio de alguns contos de fadas.

— Ah, vida!

Só de olhar para o castelo, eu poderia imaginar que o meu novo trabalho não seria fácil. Acho que vou ralar muito. Não, antes disso, eu posso ser expulsa porque eles não precisavam de uma criança.

Na história original, o Duque Abel Heilon foi um personagem coadjuvante importante. Mais precisamente, ele tinha a posição do ajudante representativo do protagonista masculino, Sigren. Como um personagem legal de meia-idade que ajuda o personagem principal em um momento importante, ele foi bastante popular entre os leitores.

No início da história, a idade de Abel era descrita como estando em seus trinta e tantos anos. Então, como estamos seis anos antes da história começar, ele estaria no início dos seus 30 anos, agora.

“Ainda jovem.”

Se havia algum problema aqui, era que Abel só era favorável ao personagem principal. Para os demais, sua verdadeira personalidade era apenas uma merda. E neste momento, quando ele era muito mais jovem do que na história, ele estava, literalmente, mais bruto.

… Será que Fiona, que deve interpretar a vilã, era capaz de lidar com esse temperamento?

— Venha por aqui.

O cavaleiro, que estava me guiando para dentro do castelo, disse parando. Livre dos meus pensamentos por um tempo, olhei para a enorme porta na minha frente. Deveria ser a entrada para a sala de recepção, onde eu iria conhecer o duque. Tão gigante.

— Abram a porta.

Ao comando do cavaleiro, dois soldados, que pareciam ser os porteiros, começaram a empurrar a grandiosa porta. A porta se abriu vagarosamente com um som pesado. Pisquei, enquanto observava a cena que se desenrolava lentamente.

O interior da sala era esculpida em pedras duras, no geral, era imponente, mas frio.  Na enorme cadeira no centro da sala, havia um homem sentado. Ele era jovem com cabelos prateados tão brancos quanto a neve e olhos azuis como um bloco de gele. O rosto em si era lindo e tinha uma impressão de sagacidade. Surpreendentemente, ele parecia ser mais inteligente do que um guerreiro feroz. No entanto, a sensação de intimidação que emanava do Lorde do áspero norte era aterrorizante.

Engoli minha saliva, involuntariamente.

Esse homem era Abel Heilon. Um personagem que, mais tarde, se tornou o professor do protagonista masculino, Sigren.

Abel franziu a testa assim que nossos olhos se encontraram.

— Eu definitivamente ouvi que um novo mago estava se candidatando.

As palavras que saíram depois foram tão frias que minha nuca e meus braços se arrepiaram.

— Quem diabos é essa garota magrinha?

Bem, um futuro sombrio esperava por mim.

— Meu nome é Fiona Green.

Apesar da recepção dura, eu cumprimentei-o com a máxima atitude respeitosa.

Abel, ainda sem alterar sua expressão, virou-se para olhar para um homem que parecia ser seu assistente próximo.

— Jeron, como diabos isso aconteceu?”

A pessoa chamada ‘Jeron’ era um jovem que parecia ter cerca de 20 anos. Ele me olhou por um momento com um olhar perplexo, então voltou seu olhar para Abel novamente.

— Eu ouvi dizer que o Conde Green enviou um mago que era seu descendente direto, mas …”

Bem, isso não era totalmente errado. Embora filha ilegítima, eu sou parente de sangue direto, e sei como usar magia.

Abel cerrou os dentes.

— Você está dizendo que a resposta é apenas uma criança?

Abel agitou sua capa grossa e se levantou da cadeira. Seu olhar em mim ficou ainda mais sombrio. Seus olhos azuis me fizeram sentir como se estivesse congelada no inverno.

— Pelo menos, agora tenho certeza que ele acha que somos ridículos. Quando esta guerra maldita acabar, vou começaremos com as propriedades da família Green.

Oh, Deus, estou ferrada! Parece que o  Duque mais forte do norte ficou furioso!

Na verdade, eu realmente não me importava com o que aconteceria com a família Green no futuro. Em vez disso, o principal problema é que tenho que enfrentar Abel, que está à beira de uma explosão de raiva. Ugh, pare de olhar para mim.

— Tuk tuk tuk…

Ouvi os ecos dos sapatos de Abel enquanto ele andava devagar em minha direção.

Eu não conseguia comer direito, então eu era magra e menor que as crianças da minha idade. E o Abel,  parado na minha frente, era muito alto. Abel parou na minha frente. Eu levantei minha cabeça ao máximo para olhar diretamente para ele.

— Ei, criança.

Tenho certeza de que eu tinha dito meu nome antes.

— Por favor, explique. Por que o Conde Green mandou uma criança como você aqui? Não há mais ninguém talentoso no condado?

Até este momento, eu não tinha motivos para ser leal a ninguém. Eu respondi honestamente:

— O primeiro irmão, Cain Del, tem que suceder a família, e a segunda irmã, Jane, está prestes a se casar. Além disso, meu terceiro irmão, Zen, também vai ficar noivo.

Sentindo-me como uma criança dedurando, engoli minha saliva e continuei:

— Então, eu, a mais nova, estou aqui.

— Hum!

Abel estalou a língua como se fosse um absurdo.

— Vejo que eles encaram a guerra com muita leveza.

Então, ele olhou para mim com olhos altivos.

— De qualquer forma, eu posso entender seus motivos, garota. Deve ter decidido que era melhor vir até aqui. Mas volte para casa!

Ele concluiu com uma expressão pesada:

— Eu não preciso de uma criança por aqui.

Parece que fui expulsa em menos de cinco minutos depois de chegar aqui.

Abel, que deu seu comando, deu meia-volta sem remorsos. Não havia tempo para investir em pessoas inúteis, certo?

Aquele olhar frio me dava arrepios. Mas eu não tinha para onde voltar agora.

O Conde Green, a pessoa que me mandou para o campo de batalha? Enquanto estive lá, fui tratada com crueldade.

Meu quarto ficava em um velho sótão sem aquecimento, e a refeição que comia eram os restos da refeição da família. Se eu voltasse para aquela mansão imediatamente, era óbvio que eu seria expulsa, porque o Conde não desperdiçaria a chance de se livrar de mim.

De fato, na história original, Fiona, que ainda não sabia de seu talento, foi expulsa da família Green e vagou pelas ruas. Felizmente, mais tarde, ela encontrou um lugar para ficar. No entanto, o sofrimento de ser abandonada pelo mundo naquele momento tornou-se o principal fator para que Fiona se tornasse uma vilã.

Diferentemente da Fiona original, eu sei que tem um grande talento neste corpo.

Magos habilidosos são tratados com respeito. A melhor opção era provar meu talento cedo e construir uma reputação com antecedência, para não correr o risco de ser expulsa para as ruas.

Afinal, a guerra chagará ao fim quando o protagonista masculino aparecer. Até lá, eu economizaria dinheiro e depois iria para o campo viver em paz, evitando completamente o desespero do meu futuro.

Portanto, antes de tudo, tenho que obter permissão para ficar aqui como feiticeira. E, depois, só terei que ficar fora da vista de Abel até que o protagonista aparecer.

Depois de ponderar isso e aquilo na minha cabeça, eu disse calmamente, enquanto observava as costas de Abel sem qualquer arrependimento:

— Espere um minuto, duque. Eu tenho algo para te dizer.

Abel parou de andar e olhou para mim.

— Que?

— Não posso obedecer essa ordem.

Abel franziu o cenho para mim. Se eu fosse uma criança comum de treze anos, eu teria chorado.

— Que?

Olhei diretamente para Abel.

— Eu não vou voltar. Mas não vou ser imprudente, insistindo para que me deixe ficar aqui. Apenas me dê uma oportunidade.

Houve uma mudança momentânea nos olhos de Abel.

— Do que oportunidade você está falando?

— Uma oportunidade para provar meu valor.

Abel lançou-me um olhar de interesse. Claro, era estranho uma garota, que parecia uma menina comum de 13 anos na superfície, dizer algo assim.

Como se estivesse tentando me assustar, ele falou com uma voz feroz:

— Uma garotinha como você? Você quer fazer tarefas domésticas? No entanto, existem muitos servos excelentes no meu castelo. Se não for isso, eu me pergunto como diabos você vai provar isso?

Não era uma pergunta difícil. Além disso, eu sabia até certo ponto como lidar com Abel. Nunca pareça atrevido, mas não precisa parecer covarde. Cerrei meus punhos e disse em uma voz firme:

— Só uma vez, deixe-me ir para o campo de batalha como um mago. Vou lhe mostrar que posso ajudar o suficiente nesta guerra.

— …

Com minhas palavras, Abel e Jeron, que estava de pé ao lado da cadeira por um longo tempo, se entreolharam surpresos. O silêncio encheu o grande salão por um momento.

Olhei com cuidado.

Em primeiro lugar, eu estava orgulhosa de mim mesma. Mas também estava tipo: ‘Que bobagem você está falando, sua garota abusada?’. Isso não iria afastá-lo?

No entanto, Abel soltou uma risadinha curta:

— …hahaha.

Inesperadamente, ele colocou a mão na minha cabeça e sorriu.

— Ok, essa é a piada mais engraçada que eu já ouvi. Não é ruim provocar as crianças!

Uma piada? Além disso, eu não queria ser engraçado … Eu fui sincera.

Abel continuou:

— Darei uma chance como recompensa. Veremos como você prova sua existência.

Um sorriso cruel? Ele tinha um sorriso de um predador. Ainda assim, estou feliz que a resposta foi mais gentil do que eu esperava.

— No entanto, se você morrer, eu não vou assumir a responsabilidade, pirralha.

Ah! Acabo de cancelar a palavra. Gentil, uma ova! Eu lutei para manter uma expressão calma no meu rosto.

— …Obrigado por sua generosidade.

Ele se virou sem responder minhas palavras.

— Jeron, dê um quarto a esse garota.

— Tubo bem.

Jeron, que deu um suspiro de alívio comigo ao mesmo tempo, respondeu apressadamente. Vendo aquela reação, pensei que ele tinha uma personalidade mais amigável do que a de Abel.

Jeron sorriu suavemente quando nossos olhos se encontraram. Foi a primeira expressão amável que recebi, desde quando cheguei a este mundo.

— Venha por aqui, Lady Fiona.

Uau, ele se lembrou do meu nome. Enquanto Abel continuava usando palavras rudes como “garotinha” e “criança” o tempo todo.

Eu segui as costas de Jeron. Ao passar por um longo corredor do Castelo de Heilon, logo chegamos no quarto designado para mim.

— Por favor, use este lugar por enquanto.

O quarto que Jeron mostrava era espaçoso e aconchegante, era incomparável com o sótão que usei na mansão. Para ser honesta, eu não esperava um quarto adequado, considerando que fui tratada com frieza.

— Posso realmente usar este quarto?

Quando perguntei com um brilho nos olhos, Jeron riu brevemente, como se eu fosse criança.

— É claro.

Fui um pouco infantil? Vamos ficar calma! Eu tossi brevemente.

— …Ótimo. Obrigada por me guiar.

Claro, eu parecia apenas uma garota de treze anos. Então, mesmo que agisse como um adulto, era difícil esperar um grande efeito. Mas eu estava com medo de ser expulsa novamente por agir como uma criança. Assim, eu estava tentando mostrar uma imagem muito madura para a minha idade.

Jeron olhou para mim com um olhar de compaixão por um breve momento, logo retirou sua expressão e disse:

— Você deve estar cansado. Então, espero que descanse bem hoje.

— Sim.

Ouvindo minha resposta, Jeron fechou a porta silenciosamente e saiu.

Quando ele saiu, respirei aliviada em um instante. Para ser honesta, a pressão de Abel não era brincadeira. Ha! Eu estava com tanto medo de um cara que criei. Era muito deprimente.

— Vamos dormir…

Eu me arrastei para a cama lentamente. Indo para a guerra ou qualquer outra coisa, teria que pensar nisso mais tarde.

Foram muitas coisas que fiz em pouco tempo, estou muita cansada para fazer qualquer outra atividade por hoje. Meu cérebro estava pedindo por folga.

Fechei os olhos e o sono apareceu em um instante. Adormeci, quase desmaiando.

Quando Jeron voltou, Abel se recostou em sua cadeira, acariciando o queixo.

— E aquela criança?

— Escoltei-a para seu quarto.

Abel se ajeitou na cadeira e sorriu maliciosamente.

— Eu não sabia se ela era arrogante ou ousada.

Ele pensou na garotinha que acabara de estar diante dele. Era claro que ela ficou assustado quando o viu. Mesmo assim, era difícil esquecer seu olhar que se manteve firme.

— Provar seu valor, ha… Apesar de tudo, foi uma fala que eu realmente gostei. Eu não preciso de pessoas incompetentes em meu castelo. Jeron, o que você acha da garota?

Jeron mostrou uma expressão um pouco ansiosa. Uma vez que ele se lembrava dos olhos de Fiona brilhando como uma criança de sua idade, enquanto admirava o quarto que tinha sido designado para ela. Como uma criança pequena poderia ir para guerra?

— Não sei. Para sua idade, ela parecia ter uma personalidade madura. Mas, no fim, ela é uma criança…? Você realmente vai mandá-la para a guerra?

— Sim. É isso que irei fazer. Se essa atitude for apenas fingimento… Se ela colocar o rabo entre as pernas e fugir, terei que mandá-la de volta.

Abel, mesmo dizendo algo do tipo, também não tinha muita expectativa. Ele aceitou o pedido, mas ela era apenas uma criança que parecia ter, no máximo, dez anos. Não podia esperar muito.

Ao ouvir aquelas palavras duras, Jeron xingou mentalmente seu chefe: “Este homem não tem sangue ou lágrimas.”

— Sei que você está me xingando.

— …

Jeron tossiu levemente:

— Urg, pode ser. De qualquer forma, ela é uma garota muito calma para sua idade. Se uma criança age assim em um lugar tão difícil, deve haver uma razão. Deveríamos fazer alguma pesquisa sobre a família Green?

Abel se apoiou no encosto da cadeira com as pernas cruzadas e disse em tom sonolento:

— Sim. Já era uma família que eu não gostava antes de qualquer maneira. Revire tudo. Não deixe para trás nem mesmo uma única joia que eles esconderam em seu armazém.

— Sim, meu senhor.

Então, Jeron perguntou cautelosamente:

— Assim, sobre essa criança chamada Fiona… Você vai realmente enviá-la para o campo?

— Daqui dois dias. Para o segundo murro.

— …

Ao ouvir isso, a expressão do rosto de Jeron ficou pálida. O segundo murro é o local onde os demônios mais atacam e é era o lugar mais perigoso.

Abel olhou para o rosto de Jeron e sorriu.

— Seus olhos estão me dizendo que sou um lixo.

“Você provocou isso.” Jeron, silenciosamente, abaixou os olhos.

Ignorando os pensamentos de seu subordinado, Abel continuou:

— Não se preocupe, eu vou com a criança também.

— … Você também irá, Senhor?

Abel respondeu secamente:

— Sim.

Ele tinha alguma preocupação à sua maneira? Jeron encarou Abel e secretamente suspirou de alívio. “Deve ficar tudo bem.”

Abel Heilon era a fera que protegia o árduo Norte. Ele não tinha misericórdia dos inúteis. Sua tolerância era apenas para aqueles que provassem seu valor.

Abel ergueu o queixo e falou com voz rouca:

— Se ela não for de grande utilidade, eu mesmo a darei como alimento para os monstros.

— …

Ao ouvir as palavras, Jeron engoliu sua saliva, sentindo suas expectativas quebradas.

“Este… Este lixo!”

Duas manhãs depois, recuperei totalmente meu corpo, que estava exausto por viajar uma longa distância.

Na mesma hora, por coincidência ou não, recebi o chamado de Abel.

— Agora é a sua vez de provar o que disse, garota.

Essas palavras foram ditas em tom cruel, como se Abel, que não dormia desde a brisa da manhã, não se importasse se eu respirasse ou não.

Foi uma frase que o fez cair em meu conceito. Eu o fiz assim, porém, quanto mais eu olho, mais esse homem realmente não tem nada para admirar além de seu belo rosto.

Além disso, talvez porque o corpo de Fiona ainda fosse jovem, eu estava cansada mesmo depois de dormir mais que o suficiente.

Eu mal resistir ao meu bocejo, antes de responder:

— … Tudo bem.

Talvez porque eu parecia tão relaxada, Abel sorriu:

— Você não está com medo?

Eu respondi indiferente:

— É inútil ter medo.

Para ser honesta, eu não estava nem um pouco preocupada. Eu tinha vivido na era da ciência em pleno século 21, eu não tive que lutar contra monstros. Mas eu conhecia o futuro de Fiona e não tinha outras opções.

E parecia que Abel já tinha decidido que deveria me amedrontar.

— A propósito, eu irei com você. Mas não vou protegê-la. Isso significa que você realmente pode morrer.

Encarei para Abel. Eu realmente não estava com medo. E nunca tinha esperado pela proteção dele em primeiro lugar.

Mas um adulto não deveria falar com uma criança com um pouco de cuidado?

— Não importa. Eu não tenho medo de morrer.

Era a verdade, não uma mentira.

Claro, não queria morrer sendo dilacerado pela mão de um demônio. Ainda assim, não importa como eu morra agora, não seria melhor do que ser atormentada pela escuridão mais tarde?

O lado bom de conhecer o pior do futuro é que, pelo menos, não tenho medo do presente.

Ah, eu queria chorar. Porque eu tive que possuir o corpo de Fiona no mundo que eu criei? Eu nem queria ser a protagonista feminina. A situação seria melhor se eu fosse apenas um personagem extra.

— …

Eu estava tão perdida em meus pensamentos que percebi, tarde demais, que estava cercada pelo silêncio. Não apenas Abel, mas também Jeron me olhavam com olhares estranhos.

— Sim?

— Pessoalmente, gosto de assistir alguém que luta para sobreviver. Mas sua reação é chata, nada divertido.

— …

Ao ouvir essa observação, Jeron suspirou um pouco atrás. Eu sentia o mesmo que ele.

Olhei para o céu claro por um momento e respirei fundo.

Porque existe um humano com tal personalidade neste mundo?

Não, pensando melhor, este é o mundo de um romance que escrevi, certo? No fim, isso significa que eu contribuí para a criação da personalidade deste homem, certo?

… Caramba.

DING! DING! DING!

Eu estava obviamente sem sorte. Isso porque, no momento em que eu e Abel chegamos ao segundo murro, um sino alto tocou para informar que os demônios estavam atacando.

— …Isso só pode ser brincadeira?

Não é educado dar pelo menos um tempo para as pessoas respirarem?

E Abel olhou para mim e abriu o sorriso mais cruel do mundo. Ei, agora mesmo, os demônios invadiram sua propriedade, você deveria sorrir assim?

— É a hora certa, garota.

Ao contrário de sua expressão facial, Abel continuou falando em um tom relativamente modesto.

— Prove o seu valor de uma vez.

Então, sem hesitar, Abel me jogaria no meio dos monstros diabólicos…? Mas eu não vou perder!

Felizmente, como a maioria das histórias de fantasia, e também neste mundo, os magos atacavam à distância. Portanto, não havia necessidade de ir para o meio do campo de batalha, onde os monstros estavam reunidos.

O que devo fazer para impressioná-lo com minhas habilidades nesta situação? Olhei no meu entorno e subi as escadas que levavam a parte mais alta da muralha.

— Eu vou subir.

Era minha primeira vez aqui, então eu precisava, pelo menos, descobrir como era o campo de batalha. Na verdade, eu o descrevi por escrito, mas ver com meus próprios olhos era diferente.

Como uma criança, eu subi forçando minhas pernas curtas. Abel me seguiu sem reclamar muito, como se ele devesse me monitorar até o fim, ele não saiu do meu lado.

Terminando de subir, olhei para baixo e arregalei os olhos.

— Ah…

— Como você se sente ao ver o campo de batalha pela primeira vez, pirralha?

Eu não havia me dado conta até agora, mas tinha um cheiro de queimado misturando com um cheiro pungente que impregnava a ponta do meu nariz. E, agora, eu via a carne de um monstro queimando.

Um soldado golpeou um demônio com uma espada, e os outros soldados ergueram tochas e atearam fogo nele, para impedir a regeneração. Claro, muitos soldados morreram nesse meio tempo.

Alguns tinham seus braços e pernas arrancados, e seus estômagos perfurados pelos monstros. Um cadáver desconhecido jazia no chão.

No centro, existia um grande monstro que era várias dezenas de vezes maior que um humano. Deveria chamá-lo de gigante?

— AAAHH!

— So…. Socorro!

Gritos e ruídos estridentes eram ouvidos de todos os lados.

Nesse momento, o gigante agarrou um soldado e o atirou no chão. O que diabos era aquela coisa vermelha que se espalhava? Embora eu não conseguisse ver em detalhes, ficava claro que os soldados eram dilacerados pela imensa força do monstro.

Vendo tudo isso, eu murmurei:

— A pior.

Não estava dizendo que este campo de batalha era a pior coisa. Era mais que isso. Significava que eu era a pior, já que eu que criei esse cenário.

Realmente, eu não queria que fosse assim.

Meus braços tremeram. Não por medo e pavor. Ao contrário, era devido a uma súbita onde de nojo em relação a mim mesma.

Abel, ao meu lado, murmurou com uma expressão de desgosto:

— Está com tanto medo que não consegue nem se mexer. Mesmo agora, se você achar que está exagerando, pode apenas voltar atrás.

— … Não.

Claramente, havia uma enorme diferença entra a capital pacífica e os campos de Heilon.

Eu mordi meus lábios. Fiquei assombrada com a súbita realidade se desdobrando na minha frente, mas não podia ficar parada assim.

Não. Ao contrário, eu contribuí para a criação deste inferno. Eu deveria começar a assumir alguma responsabilidade.

— De agora em diante, eu vou começar.

Recebendo um olhar de surpresa de Abel, estendi minha mão para frente.

Nesse mundo, a magia comum significava manipular os poderes mágicos que fluía, a mana, para controlar os elementos naturais como água, fogo, vento e luz.

Isso significa que você não recita feitiços como em muitas outras histórias de fantasia.

E o critério para medir um bom mago era o ‘quanto ele poderia controlar dos elementos naturais com um pouco de poder mágico’. em outras palavras, o que importa é a eficiência.

— …

Ao estender minha mão, consegui sentir um fluxo suave como o ar, mas que podia controlar conforme minha própria vontade. Se eu perder a concentração, mesmo que por um segundo, parecia que se espalharia como uma onda. Isso era magia.

Para ser honesta, era a minha primeira vez que usava uma magia em escala tão grande, estando no corpo de Fiona.

A única coisa em que podia confiar agora era o talento nato que estava adormecido no corpo desta garota.

De repente, fiquei ansiosa.

“Não vou atingir nossos aliados… Certo?”

Uma nuvem negra veio de longe. Fechei os olhos para manter o foco.

Ouvi um pequeno murmúrio de Abel ao meu lado:

— É uma tempestade?

Semelhante, mas ligeiramente diferente. Era tudo que queria.

— Kieek…!

Talvez, eles tenham sentindo alguma mudança na situação, mas os monstros no campo de batalho soltaram gritos estranhos.

De repente, um som vibrou a atmosfera.

Urrr!

Ao mesmo tempo, abri meus olhos para mirar com precisão.

BOOOM!

Um relâmpago brilhou sob a nuvem negra e atingiu o gigante próximo. Era um monstro forte por causa do seu tamanho, mas também era um ótimo alvo para mim.

Não havia apenas um gigante. E toda vez que enxergava um gigante no campo de batalha, eu o atingia com um raio.

Se não caísse com uma, duas ou três raios. Apenas continuava atacando.

— Uwaaaah!!

E sempre que o enorme corpo desabava, os soldados aplaudiam e os monstros ficavam apavorados.

— Francamente.

Quando a maioria dos gigantes que se erguiam no campo de batalha caiu, Abel me ergueu.

Fiquei assustada com o gesto repentino de me levantar e agarrei seu ombro. Virando a cabeça, encontrei os olhos azuis de Abel.

Ele murmurou em um tom de admiração.

— É incrível! Como um castigo de Deus.

Com isso dito, voltei meu olhar para o campo de batalha.

Sob as nuvens negras, relâmpagos apareciam com um grande rugido e atingiam as tropas demoníacas no campo de batalha. Isso se parecia um castigo divino para Abel?

— Esta é a primeira vez que vejo um mago com tal habilidade. Você é mesmo uma humana, criança?

— Com certeza!

Para ser franca, eu sou a vilã final do futuro. Haha.

— Eu acho que sim.

Abel parecia estar perdido em seus pensamentos. Logo, carregando-me, ele caminhou para frente.

Ele parou habilmente no final da muralha. Se ele desse apenas um passo à frente, cairia imediatamente. Assustada com o cenário vertiginoso que estava na minha frente, agarrei as roupas de Abel com tanta força que ficaram amassadas.

Ele não ia me jogar para fora só porque não fui o suficientemente boa, certo?

— Olha, os demônios estão recuando.

Uh, realmente? Estava tão ocupada usando magia que não tinha percebido, mas, assim como Abel disse, os monstros restantes estavam fugindo com pressa. Era uma visão espetacular, no bom ou no mau sentindo.

Uau… Senti que fiz algo de bom pela primeira vez neste mundo.

Quando olhei para baixo, meus olhos encontraram os soldados que estavam me encarando fixamente.

Acenei com a mão, enquanto ainda estava no colo de Abel que tinha um sorriso mordaz. Tinha vergonha de parecer uma criança. Não havia o que fazer, era a minha aparência agora.

— Uau!

Ao mesmo tempo, como se tivessem combinado, gritos altos soaram de todas as direções. Alguns soldados até aplaudiam. Era tudo em minha homenagem.

Depois de acenar de volta por um momento, olhei para Abel:

— Fui bem, certo?

Abel fez contato visual comigo e apenas sorriu levemente sem dizer uma palavra. Então, ao contrário de antes, ele me colocou no chão de uma maneira muito delicada.

Abel levantou a mão e acariciou meu cabelo levemente.

Revirei os olhos. E escutei uma voz baixa vindo do alto:

— Bem-vinda a Heilon, Fiona.

Ele me reconheceu!

— É uma honra.

Num instante, a tensão que sentia foi aliviada. Agora, eu poderia ficar aqui.

E um segundo depois, percebi que Abel havia chamado meu nome pela primeira vez.

No fim, ele sabia dele o tempo todo, mas intencionalmente me chamava de criança ou pirralha!

Mas antes que eu pudesse abrir a boca, Abel se virou e desceu as escadas. Um manto grosso envolvia suas costas largas, balançando ao vento.

Odiava isso, mas não tive coragem de questionar, por isso acabei apenas encarando as costas de Abel com uma expressão carrancuda.

Até mais tarde, seu bastardo.